Quando bebês, estamos praticamente com a consciência adormecida. Recebemos estímulos diariamente para alcançarmos o maior nível de compreensão possível durante aprendizagem, e isso depende da capacidade individual de cada ser, se desenvolver mais rápido ou não. E os animais não humanos? Esses são bebês que estendem seu estado e sua inocência, pela fase adulta até o resto de suas vidas.
Já fomos bebês, e podemos lembrar com exatidão, os momentos em que levávamos uma bronca, ou até umas palmadas. Era o bastante para nos deixar profundamente abalados, seguido de choros incontroláveis e uma profunda sensação de injustiça. Estávamos nós lá sozinhos e injustiçados a derramar lágrimas e provar os piores sentimentos, porém reais de incompreensão dentro da nossa pequena capacidade de entender o mundo com a percepção reduzida de tudo ao nosso redor, como se fosse um animalzinho inocente.
Isso nos feria profundamente, mesmo que por pequenos e angelicais "delitos", não conseguíamos distinguir que nada de grave era, assim misturando sentimentos tão profundos e desproporcionais ao acontecimento que nenhum prejuízo real trouxe a si ou a alguém.
Onde quero chegar?
Animais não humanos não possuem o processo cognitivo desenvolvido como os humanos, prontos para decifrar através da compreensão o que sentem, onde estão e como se encaixam nesse planeta. Por mínimos que possuem, já são o bastante para se comparar a bebês.
São seres que irão viver toda uma vida com uma compreensão limitada das coisas a sua volta, resumindo, crianças que apenas querem brincar empurrados pela mente inocente dando sentido a suas existências. Nada mais que isso. A vida se incumbe de empurrá-los como qualquer ser vivo, mas infelizmente uma – espécie mais "desenvolvida" — os conduzem da pior maneira possível e desumana, a espécie humana.
Quando chamamos atenção de uma criança ou damos umas
palmadas, já geramos sensações de injustiças profundas dentro dessas. Como ficam os animais não humanos, quando são enganados por falsos sentimentos de amor, e o que deve se passar dentro desses mesmo não racionalizando?
Já que, menos desenvolvidos, ainda sim, são sensíveis, se apegam, amam, protegem seus filhotes, escolhem humanos como amigos, sentem ciúmes, são carinhosos, ficam tristes, alegres, sentem medo, dor, frio, etc. Essas semelhanças não são meras coincidências, são fatos que provam que somos semelhantes. E por que isso acaba tão mal pra esses, nas mãos daqueles que podem distinguir facilmente suas sensações e emoções, os humanos?
Que tipo de seres somos nós, que não sentimos compaixão por aqueles que se sentem exatamente como nós? Nas dores em nossas entranhas, vítimas também dos intempéries da natureza como o calor excessivo, o frio congelante, doenças dolorosas, fome, o sofrimento de uma mãe pela perda de seu filhote. Preciso conjecturar mais evidências que extrapolamos no domínio da racionalidade?
Criamos laços afetivos com os animais e ao mesmo tempo temos a capacidade de tratá-los como coisas. Comê-los assados em uma mesa, onde nos encontramos todos felizes. Tem pessoas que conseguem criar um porco ou uma galinha — desde seu estado de bebê, acompanhar todo seu desenvolvimento, atribuir-lhes nomes, se apegar, rir, fazer carinhos nesse, e por fim, degustá-lo assado ou cozido, depois de uma sequencia de tortura, mutilação e morte. Você sabe o que é isso, que tipo de mente se justifica a isso?
Já imaginou a sensação de injustiça e sentimentos terríveis dentro desses seres ao terem seus corpos violados, mutilados e explorados, já que os únicos que poderiam defendê-los justamente é quem os matam ?
Quando crianças chorávamos com uma pequena palmada, e o nosso mundo se acabava... Não consigo saber na íntegra como um animal se sente em um alto grau de sofrimento proporcionado pelo homem, mas tenho a capacidade de imaginar, por eu também ser um ser vivo, como me sentiria no lugar dele. Sentimento de traição, pavor e dor, não como nós humanos sentimos, mas garanto que deve ser muito mais profundo, real e aterrorizante do que conhecemos, não desejaria passal tal privações em mãos hostis que por ironia se diziam amigas.
Animais sangram literalmente, por dentro existe sim, uma sensação de injustiça real, quando sua existência que é algo pessoal, intransferível, inviolável e real. Por instinto ele sabe possuí-la, e por qualquer sensação de ameaça, ele lutaria pela sua vida até o fim. Infelizmente nós humanos somos tão covardes que não lhe damos essa opção de defesa — pela sua própria existência.
Vamos refletir sobre o mundo em que vivemos, tudo a nossa volta, sobre igualdade, respeito e espaço. O planeta não pertence apenas a nós, estamos aqui de passageiros, e precisamos deixar a casa em ordem e em paz, para em breve ir embora.
Jota Caballero